Jamylle Mol
Foto: Jamylle Mol |
“Tenho cara de baiano e nome de alemão, mas, já que ninguém é perfeito, nasci em Niterói, no Estado de miséria desse Brasil de meu Deus. Graças a minha mãe que me teve – porque, se ela não tivesse me tido, eu não estaria aqui – integrei uma família grande. Dos meus irmãos, sete não deram pra nada. Eu, nem pra isso dei.
Acho que os aplausos são o incentivo do artista. No entanto, não consigo me lembrar do primeiro aplauso que recebi: tinha apenas seis meses de idade! Participei de uma peça de teatro – dessas sérias, que fazem o público inteiro se derramar em lágrimas – e, por sorte, acaso ou destino de artista, chorei no momento exato que o personagem deveria chorar! Aplausos pra mim!
Já garoto, fui um palhaço muito sem graça, era o quebra-galho das matinês dos espetáculos da família. Fazia piada, dava cambalhota e ninguém ria. Um dia, entrei em cena e, como num milagre, o público riu de tudo o que eu disse: alguma coisa estava esquisita! ‘Será que estou de ceroulas de fora?’. No fim do espetáculo, surpreso pelo sucesso recém-conquistado, percebi que, no corre-corre para entrar em cena, havia me esquecido de pintar o rosto! Desde então, entendi que sou palhaço sempre, assim mesmo, de cara limpa! Todo mundo na vida nasceu para alguma coisa, não é?
Minha primeira vaia? Ah sim... dessa, me lembro! A dupla Tonico e Tinoco se apresentaria no circo da minha família. Como eles eram muito requisitados em diversos locais, demoraram a chegar. Para enrolar a plateia, já impaciente, me puseram para contar piadas. Na quinta vez que voltei ao palco, não deu outra: uuuuuuuuuuuu. Vaia na certa!
Dei meu primeiro autógrafo para uma moça bonita que vi na feira, fiquei emocionado quando encontrei com ela anos depois... O primeiro autógrafo a gente nunca esquece.
O que? An? Calma, calma, já vou falar dos Trapalhões!
Eu sempre quis fazer cinema e, num desses encontros felizes que a vida nos traz de brinde, conheci o Renato (É! O Aragão! O Didi...). Com ele, fiz mais de setenta filmes que, para nossa surpresa, alcançaram sucesso de bilheteria recorrente.
Sou lutador de MMA, tenho sangue alemão por transfusão, um filho de 16 anos, sou aposentado como cortador de camisa... TÁ BOM! VOU FALAR DOS TRAPALHÕES!
Bem, depois de um tempo, eu e o Renato (Já falei que sim, é o Aragão, o Didi... vocês estão com a cabeça onde, heim?) nos juntamos a duas grandes figuras: uma delas, o maior ator brasileiro, o Zacarias. A outra, um comediante nato que, embora afirmasse que o que sabia fazer bem era tocar samba, foi o personagem mais engraçado dos Trapalhões. Cacildes, Mussum! Nunca me considerei um dos Trapalhões, mas, sim, o maior fã que eles têm.
Como assim nosso tempo já está acabando? Tem outra apresentação na praça? Se é assim... já vou terminar, pode soltar a música que eu vou falando...
‘Uma pirueta, duas piruetas... Bravo! Bravo!’
Quem nasce em Alagoas é sapo! Quem nasce em Natal é Papai Noel! Quem nasce em Mariana? Ah, quem nasce em Mariana é gente boa, bonita e carinhosa!
Lembrem-se: palhaços, humoristas, escadas e demais artistas do humor sempre farão sucesso, sabem por quê? Porque nasce criança todo dia!
Hoje, com a idade que eu tenho (Já tô terminando, Baiaco! Já tô...), percebo que tudo que eu sou, esse tudo que eu me transformei, devo um pouquinho a mim. O resto, TODO O RESTO, é culpa de vocês! O público é a coisa mais importante entre todas as coisas!
Bom, Mariana, esse não é um adeus... pretendo voltar aqui muitas e muitas vezes. Nada de adeus, mas até breve, até o ano que vem! Até os anos que virão! Eu sempre sou bem recebido, mas aqui... é sensacional!
O QUE? EU ESQUECI DE ME APRESENTAR?
Sou o Manfried Sant´anna, mas podem me chamar de Dedé!”
E, assim, a Praça da Sé foi se esvaziando aos poucos. Desconfio que tudo – igreja, escadarias, pés de moleque que compõem a rua, lampiões nos postes e o que mais tem por lá – espera ansiosamente o próximo encontro: de palhaços, de alegrias, de emoção, de Dedé Sant’anna.
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