Jamylle Mol
Foto: Jamylle Mol |
Foto: Paula Peçanha |
Por definição geral, malabarismo é uma das atrações pioneiras do circo tradicional. É a capacidade de manter, no ar, argolas, bolinhas, claves, copos e o que mais a criatividade do artista permitir. Malabarismo, em essência, é a arte de manipular objetos com destreza. É a habilidade que permite a alguém fazer tanta graça com as coisas a ponto de confundir os olhos do público, que fica sempre atento à dança colorida que os objetos formam no céu.
Para assistir aos malabarismos da dupla “Duo Morales”, as pessoas encheram a Praça Gomes Freire, e, como uma prévia do que viria, se equilibraram também, umas entre as outras, para enxergar o melhor ângulo do espetáculo. Sentados em um dos banquinhos da praça, com direito a uma visão panorâmica do que estava por vir, dois garotinhos – um deles, com o nariz pintado de vermelho – reparavam a montagem do cenário, balançando os pés, numa ansiedade dessas urgentes que se tem quando criança de quatro ou cinco anos:
– Eu gosto mesmo é daquele negócio ali, sabe?
– Que negócio?
– Aquele ‘trem’ ali no chão, laranja e amarelo...
– Ah! A sanfona?
– Nããão! Aqueles troços pequenos que parecem uma roda...
– As argolas?
– Chama “argola”?
– Chama, né! É de fazer mabalarismo!
– Fazer o que?
– MA-BA-LA-RIS-MO! É o que os palhaços vão fazer hoje, não sabia?
– Não! O quê que é mabalarismo?
– É assim, oh: o palhaço sai pegando as coisas no chão e joga pro alto! Depois, ele pega tudo de volta, sem deixar cair nadinha! Eu sei fazer também.
– VOCÊ SABE FAZER MABALARISMO?
– Sei.
– Então, me mostra!
“Contagem regressiva! Mil, Novecentos e noventa e nove...”
– Agora, não dá... vai começar o show, olha lá o palhaço contando...
“Novecentos e noventa e oito, um! Respeitáááável público, com vocês: Guga Morales e Dani Morales!”
– Depois do show, você me ensina a fazer mabalarismo?
– Shiiiiiiii! Tô prestando atenção ali, não tá vendo?
– Ensina?
– Vou pensar. Agora, fica quieto!
Argolas para o alto, prato em uma mão, taça de vidro em outra. Bolinhas fazendo uma roda em frente ao malabarista vestido de azul. Claves rodando por cima das cabeças das crianças que acompanhavam o movimento dos objetos sem piscar, para não perder nem um minuto da festa.
Os dois garotinhos, agora, de pé em cima do banco da praça, assistiam a tudo admirados. O menor, de nariz pintado, de vez em quando lançava um olhar espantado para o amigo, como se pensasse “e ele sabe fazer isso tudo também!”...
Fim do show, hora dos agradecimentos:
“Esse foi o show de malabarismo da Duo Morales, no 4º Encontro Internacional de Palhaços...”
– Ele falou “ma-la-ba-ris-mo!”...
– É! Eu já te expliquei o que é mabalarismo, não expliquei?
– Mas não é mabalarismo que fala, o palhaço disse ma-la-ba-ris-mo!
– Olha que eu não te ensino a fazer nada!
O menino não insistiu. A vontade de aprender com o outro devia ser maior que a necessidade de ouvi-lo dizer a palavra de forma correta.
Enquanto o garoto de nariz pintado se distraía com o fim do espetáculo, o menino malabarista puxou a calça da mãe, que estava logo atrás dele:
– Mãe, como é que se diz malabarismo?
Não é que nesse texto você fez mabalarismos e malabarismos com a emoção, Jamylle?
ResponderExcluirParabéns Jamylle, muito boa a sua percepção e descrição do espetáculo!
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